sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

No fim das contas



Sentei em frente à vidraça
Talvez fosse dia ainda, mas nem importava muito
O último cigarro ainda enchia a sala de fumaça
Da garrafa de vinho, talvez só duas gotas na rolha
E hoje não é dia pra mais uma
Como tudo se tornou isso?
Como as coisas são tão fúteis agora?
Pela manhã, o cansaço é espiritual
Já à tardinha, o corpo pede menos
E o dia vai-se indo, e não deixa força alguma
“Ah, mas viva o dia... você é o que você faz”
Alguém gosta de derrotas?
Ser vencido pelo tempo é uma maldição
Ser vencido pela vida, é aceitável... Mas não é certo
Ser vencido pela alma...
Mudei o pensamento, que tal lembrar a infância?
Melhor não
Outro dia, me socorri aos prantos lendo um pouco de Bukowski
E depois sorri, afinal, optei por ser assim
Concorda?
O detalhe é que há tempos não me importa concordar com ninguém
E não, ninguém escolhe as cicatrizes que quer carregar
E nem as feridas que se vão abrir
Ninguém quer sofrer
E só eu não consigo entender isso
A impressão é de que vivo cercado por gênios
E todos têm a cura nas mãos
Mas ninguém tem um inferno por dentro
E ninguém está cuidando de ninguém
Eu me esforço, o bastante... É o bastante?
Eu faço o que eu posso fazer
Faço?
Eu não queria confusão com ninguém
Acabei me confundindo comigo mesmo
Eu sou uma ave de rapina
Um pequeno pardal
Um roedor indefeso
E uma taça quebrada...
Não consigo transbordar, em nada
No fim das contas, acabo sempre secando, fugindo...

Daniel Sena Pires – No fim das contas (31/12/11)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Por alguém por aqui





Há quem diga que caminhar com cuidado
É pisar com a certeza que quem ama
Pois sozinho, ninguém ganha
E dizem mais...

Dizem que a esperança é um futuro amarelo
Que o bom mesmo é desviar dos acasos
Vencer todo dia, mesmo que doa
E vai doer, uma hora ou outra... Às vezes anos inteiros

O bom é ter-se em mente que...
Seja vida, seja sorte, seja coração, seja pensar
O poder de governo é nosso

Não existe isso de ganhar mais
Amar mais
Sofrer mais

O que é existe é a vida
Entrega e...
Superação

Quando as coisas não vão bem
Aquele tempo que poupamos...
Descontando as horas extras de medo e angústia

Cai bem...
Quem sabe no meio do colo
E é bom olhar pro relógio, e ver o tempo passar

Um dia é tic, no outro o tac
E assim vamos...

Hoje estou tentando um bom dia, todo dia
Às vezes, eu choro
Mas não é culpa minha

E se eu perco, ao menos...
Não me desespero mais.

Daniel Sena Pires – Por alguém por aqui (23/12/11)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Vida curta ao passado



Quem nunca viu, cedo, na matina, o corpo, ainda preguiçoso, repulsar o dia?
Bem, tudo é composto de querer...
Se hoje você está triste, o seu querer não é obrigatoriamente longínquo
Ele pode até lhe ser vizinho
Pode lhe ter castrado a vida
Ter cuidado com o que se deseja, é cuidar pra não morrer pela boca
Ou morrer pelo corpo, pelo bolso
Pela casa, pelas manias
Pelo despreparo, pela impulsão
É cuidar de si, como se os seus pedidos fossem realmente atendidos
Não adianta olhar pro céu e abanar papéis em busca de consolo...
Se você se dissolve em seu próprio desespero
A angústia aprisiona, mas a liberdade é um bem...
E, como todo bem, ela mesma precisa de proteção
Em prol de nós mesmos, acredite...Só nós mesmos
Harmonia entre homens e outros homens...
É tão fácil quanto a vida de uma criança bandida
De uma mulher mal amada
De uma alma maltratada
O peso do passado, às vezes nega-nos até o próprio sono
O descanso que é bem-vindo
Vida curta ao passado
Que quando o presente tiver ido, e no futuro nos encontrarmos
Fantasmas e dores imprecisas, tenham ficado...
Não no esquecido, pois não acontecerá
Mas sim, submissas, sob camadas de esperança.

Daniel Sena Pires – Vida curta ao passado (13/12/11)

sábado, 10 de dezembro de 2011

Não fosse o sol



Viver vale tanto quanto o ser se pode amar
E meu ser é todo amor
Pois aprendi que, mesmo em dor, posso voltar
E no topo, com minhas decisões
Jurando medo, ou minhas confissões...
Beijando sangue
Está tudo que disponho
E nada me prende
Sou dono da minha liberdade
Concedo-a a mim, quando bem me quero
Difícil é render seu próprio coração...
Preocupado com o coração dos outros
Ter “certeza” do que se sente
Na espera do vão alheio não mais existir
E eu sou assim
Não disse que era fácil
Nem disse que é bonito, feio, ou azul
A complexidade da minha face...
É solta ao mundo, como eu sou
Não sou dado, sou conquistado
E não sou tudo, mas pratico intensamente o meu “talvez”
Um quase poliglota bêbado de sono da sorte
Mas apostando alto
Com as fichas sempre ardendo
Eu sei onde estou pisando
Mas, mesmo assim, às vezes, tenho medo
Às vezes eu sonho com a tarde em que vi alguém me ver
E dá saudades
Às vezes nenhuma coisa me alivia essa saudade
E dá raiva
Meu ser é tão amante, coitado...
Sofre tão angustiado...
É horrível viver sempre com essa impressão de que...
Falta tão pouco, e que vou ser feliz.

Daniel Sena Pires – Não fosse o sol (11/12/11)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O uivo dos lobos viciados




Vira e mexe, eu sonho alto, que no espaço não há fim pro meu querer
Complicado, às vezes eu luto sozinho
Sem culpar ninguém, é meu melhor jeito de ser feliz
Quando eu grito muito, é sempre precisando de proteção
Demonstro fraquezas adversas
Catequizando todos os meus sentimentos
Vendando os olhos do fracasso interno
Que acompanha toda e qualquer diversão
Eu juro que não estou sorrindo
E o sofrer é o padecer da culpa
E isso é o que mata por dentro
Não basta só doer, a dor fica te culpando
A cabeça numa matemática devastadora
Numa incompreensão de dar emprego à morte
Fugir?
Eu só não posso mais ouvir só barulho

O uivo dos lobos viciados
Pois chegou a hora de roubar paz
Quero algo pra encostar
Um pouco de voz pra ouvir
Um pouco de tom, ao falar

Eu não tenho medo de mim
Ou eu não posso ter.

Daniel Sena Pires – O uivo dos lobos viciados (07/12/11)