domingo, 29 de janeiro de 2012

Pouco tenho ouvido a minha criança interior



Ando por aí exaltando mímicas de fascinação
Numa adaptação inexistente
E uma saudade vadia
Do tempo em que a vida era direita, ou era esquerda
Mas eu sabia(pensava saber) onde meus pés estavam à pisar
Não gosto de reclamar, mas meu coração dói, às vezes...
E essas vezes são comuns
Não de igualdade, mas de recorrência
O que é um raro porquê, na verdade, dissolve-se logo
E mesmo que tudo se perca no espaço
Prefiro lançar-me ao infinito, do que me perder cá por dentro
Apesar de todos os distúrbios
E da malícia dos indivíduos que se chamam próximos
Apostar no meu bem, é, em pontos, revigorante
Assistir à queda dos olhos maldosos...
E superar minhas próprias expectativas...
Em horas, me faz bem
Quando todos correm, é divertido engatinhar
E ver alguns tolos se perguntando aos berros
“Como ele pode ser assim?”
E pra quem tem concreto no peito...
Não adianta ser cortês...
Em certas pessoas, mora um mal tão grande
Que mesmo se fôssemos divinos...
Proporiam incêndio aos nossos fins...
Só pelo prazer de “vencerem” sozinhas
Nego o desrespeito, mas não respeito... Nem me encaixo
Me situo, e sigo bem
Com meu bem-estar de homem válido
Humano confuso, talvez, atordoado...
O meu bem que é paz
É a paz do meu espírito, e meu convívio pessoal
Digo que não mato, mas não gosto de morrer
O latejar da dor é findo, mas o sabor fica pra sempre
Por isso tem gente que corta o lado de fora...
Tentando poupar o de dentro
Eu vou, sem classe, sem megalomania
Sem utopias...
Pra não pirar, pra não produzir infimamente
E, em desespero, ficar cego
Esperando um pouco mais do que o valor real das coisas
Eu quero a surpresa boa
Quero o sumo do futuro bom
E oro, peço, imploro...
Sempre, quando ninguém está olhando.

Daniel Sena Pires – Pouco tenho ouvido a minha criança interior (30/01/12)

domingo, 15 de janeiro de 2012

Anamnese




Espero que todas as risadas sejam somente essas
E que não me façam mais sofrer
Queria não lembrar tanta coisa
Às vezes, me pego assustado
Cochichando até em pensamento
Outra hora, aqui, dentro de mim...
Principalmente, na cabeça
Existem coisas impossíveis acontecendo
É medo
Durmo quase nada, que solução direi a ti?
E dirás a mim?
Enfim...
Brinquei um pouco com meu gato
Desliguei a pressão, e reativei meu raciocínio
Coisas comuns, diárias, naturais
Do que estou tentando me convencer?
A maioria das coisas nem existe
A maior parte da vida está vivida
Copiar parece a solução mais lógica
Inovar nunca foi de meu domínio
Convenhamos que não se aprende tudo
É o clichê básico me atormentando:
“Eu queria ser criança de novo”
Chamar mamãe, ter papai, conhecer amigos
Quem sabe, dispensar alguns
Quem sabe, dispensar todos
Viver de projeção é tão ruim
Mas o alcançar tem preço?
E lá vou eu me perguntando de novo
Catatônico
Medindo bem os passos
Quando me movo
Espreitando as margens dos atos
Tocando com a ponta dos dedos...
Os locais inimagináveis, loucos...
De certa forma, macabros
E... Admito, meio estranho, sublimes
É um vício, e sempre foi assim
Eu tenho muito medo de ser só pobre...
E nada mais.

Daniel Sena Pires – Anamnese (16/01/12)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Organizando desespero



Sabe qual é a verdade das coisas?
Não importa
É só isso
O que você pensa é seu domínio
Outras verdades só irão te confundir
Por isso não importa
E não me venha fazer coro de filósofo
É mais fácil me ganhar uma pancada...
Do que um obrigado, com seus conselhos
Uma amizade bem guardada é prazerosa companhia
Um amor bem cuidado, pode durar um tempo preciso
Uma vida feliz, pode, quem sabe, ter um ou dois momentos felizes...
Talvez uma ou duas coisas que te façam feliz sempre
Um sempre, pode durar algumas horas
Pode não durar nada
Pode não existir
O aprendizado é o caminho, concordo
Mas não estou aqui para caminhos já traçados
Os vícios da minha vida nunca hão de fazer sentido
Um pouco de dor, um pouco de raiva
Quem disse que é ruim?
Quem disse que é verdade?
Quem disse que eu me importo?
Eu disse
Eu menti
E a verdade é que...
Não existe verdade alguma
Somos marionetes uns dos outros
Cada qual com sua corda
Entrelaçando com a do seu vizinho
Com a do seu amigo
Com a do dono da venda da esquina
Com a do presidente
E de tanto friccionar...
Nos arrebentamos
Um por um
Dia após dia
Isso é podre, isso é...
Bom, isso, sim, é verdade.

Daniel Sena Pires – Organizando desespero (13/01/12)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Até quando?




... é estranho, abri a janela, e um rapaz gritou do lado de fora:
“Acredite, se quiser... o que você pensa não importa pra ninguém”
IDIOTA, foi o que me veio à ponta da língua
Daí, desci pro café, já com saudades do sono
Pensei cá comigo mesmo:
“Sabe o que vou fazer hoje? Reparar em como meu dia consegue acabar comigo, ou reparar as arestas da minha infelicidade interna, propondo, assim, que eu me suporte.”
Chega de pensamentos infelizes
Não há nada pior do que ficar esperando dor o tempo todo
O otimismo, sorrisinhos descontrolados, isso tudo me assusta
Não sei exercitar falsidade
Nunca soube
Mas não custa nada me por de lado
Se o mundo quer que eu não lhe faça mais parte
Que seja, fico aqui com minha alma e meu conjunto... Dois ou três amigos, e uma massa de modelar viva, com a qual ainda consigo compor uma ou outra distração
Às vezes anseio tanto que alguém me entenda...
Que, por algum tempo, nem eu mesmo me conheço
Eu sou egoísta, se não tenho idéia do que sinto, como cobrar isso de outrem?
Não faz sentido, faz?
Me sinto falho, borrando essa maquiagem podre
Meu batom de migalhas, minha peruca Chanel, perfumes baratos em embalagens importadas
Olhe bem dentro dos meus olhos, e me diga...
Diga algo
Por favor
Chame alguém da minha família, e peça ajuda
Chame o meu amor de volta
Me ajude a escolher o que dizer quando ninguém mais suportar me ver por perto
Você só precisa saber uma coisa sobre mim:
Não me importo... E, mesmo assim, perco o sono com qualquer coisinha
E eu estou desesperado... Me sinto como um homem já de certa idade
Sentando numa praça, jogando milho aos pombos, todos mortos
Colhendo as rosas, todas mortas
E voltando pra casa, revendo a todos, todos mortos
Tudo é tão infinito
É maior do que a face da terra
E cabe aqui dentro...
Talvez seja isso pulsando
E eu não dormi muito bem
Quem sabe seja isso movendo meu medo por onde quer que eu vá
E eu não tenho raiva, acho que já a engoli toda
Indigestão fadigada, confusa... Odiosa
As unhas cresceram, a barba cresceu
O preço que eu pago continua crescendo
E... Meu Deus, já são 4hs da manhã de novo
Daqui a pouco, preciso abrir a janela
Até quando?

Daniel Sena Pires – Até quando? (07/01/12)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Gritando com os olhos




Numa dessas madrugadas que duram dias inteiros...
Sentado em uma cadeira, e o pensamento amordaçando o alívio
Como se a morte fosse arauto desse alívio
Que calor é esse?
O suor pingando o quarto todo...
E a raiva enlouquecendo minhas mãos
Com quanto desprezo hei de encarar o espelho amanhã cedo!
Isso desperta o gigante do vício
E não acordar é uma opção de fato
A minha vitamina de espírito é a convivência
O fato de extrair coisas boas de alguém, e lhe oferecer meu ombro
Ou lhe pedir abrigo, e lhe oferecer minha eterna gratidão...
É constantemente tomado de medo, quando, na minha cara...
Sou humilhado por coisas que eu tento esquecer
Lá, a vitamina é veneno, e os prazeres são suicidas
Por favor, se me vir sorrindo por aí...
Só me deixe passar, não me faça ver que você não me conhece
Sabe quão ridículo eu me sinto, por ter que ficar conversando sozinho?
É difícil, às vezes é tão difícil quanto o ponto final
Eu tenho culpa nisso tudo?
Devo ter, não sei
Devo ter ficado tão louco, tão louco...
Que na minha loucura, eu estou sempre triste
E tão triste, tão triste
Que dentro do meu espaço de louco
Só há minha identidade triste, meu sorriso triste
E minha vida mendigando cortesia, sinceridade, mendigando a própria vida
Me prostituindo pessoalmente pra conseguir disfarçar meu sofrimento
Situações perigosas merecem soluções drásticas?
É claro que não, ninguém joga pedras em um moribundo
A não ser alguém com um coração vazio
Situações perigosas pedem por resoluções contidas
Que eu grite então!
Mas que grite com os olhos
E deixe meu silêncio ecoar pelo universo
O ruim da vida é que sempre que você começa uma escalada difícil
Fora o estado íngreme em que a mesma se encontra
Existem ainda aquelas pessoas de humanidade duvidosa
Que nos transpassam com palavras e pensamentos aterradores
Com uma maldade de fazer frente aos reis
E uma estupidez de entristecer o criador
Eu sou forte, e vou ficar bem
Eu sou bem, e vou ficar forte
De qualquer maneira, estou mentindo
Estou cansado
Estou...
Eu sou
Meu Deus... Eu sou.

Daniel de Sena Pires – Gritando com os olhos (03/01/12)