terça-feira, 31 de maio de 2011

O "ser monstro"



Eu sou um monstro, dividido em alguns capítulos notórios
Outros ruins, outros “criança”
Mas não machuco ninguém
Um monstro sem atitude
Que só assusta o coração
E fico de fazer medo, de ser terror
Emboscado por minhas próprias confissões
Aterrorizado pelo que eu mesmo causei
Monstro que sou
Bom nisso
Caminhando pelas ruas da cidade
Rastros de fumaça e pedaços do corpo
Pedaços de nada, rastros de procura
E quando passo gritando
Pela porta alheia
Que me viram o rosto
Ou me chamam “atraso”
Eu sou o que eu quero?
Eu nem me atrevo
Eu sou esse monstro
Com a força mais feia que existe
Que cadaveriza a emoção
Em prol de mais uns dias de ar
Pois é preciso obter retorno
Se não te dão, vá buscar!
E eu vou
Assustando quem gosta de mim
Mas, de certa forma, eu sou uma boa forma de ser
Monstro …
Ah!
Expulsar do peito o vapor
Que sobrou do último ataque de dor
Em um ébrio parecer
Com as palavras que me são mais assustadoras
Demonstro (de monstro) … qualquer racionalidade barata
Posso parar muito bem por aqui
Pronto.

Daniel Sena Pires – O “ser monstro” (01/06/2011)

sábado, 28 de maio de 2011

O quarto e seus vícios









Do nada, o escuro
Sabe aquela hora em que está tudo indo bem?
Não que a perfeição tenha feito morada em ti
E nos teus contatos, e nos teus domínios
Mas estás tranquilo, e consegues fechar os olhos
E ter vontade de abri-los

Não que tudo dê sempre certo
E nem que dê sempre errado
Mas as tendências apavoram, as angústias policiam
A mente espreita, mas mesmo assim …
Estás gostando do filme, da comida, da música no rádio
Da companhia que nem esperavas

Eu juro com todo o poder que essa palavra impõe
Que a melhor coisa no mundo, seria se eu estivesse errado
Sempre, e agora … muito provavelmente daqui a alguns minutos ainda
Mas não por gostar de falsidade
Ou procurar ser a atenção central
Longe disso, e de mais … e de tudo, se puder

É que eu tenho tanta certeza de que vai doer
Que me assusta
Mesmo certo, me assusto
Por que é de doer, é de assustar
E o que fica passível de conhecimento
Perde o sentido, simples assim … mas quem entende?

Sei que o que sinto jamais usará de força com você
Bradei hoje pela manhã que falho
Cantei pelo horário do almoço que não vivo
À tarde soletrei todas as letras que me lembram a vida
E já cochichei pela noite que força eu tenho
Usá-la predispõe motivo

O que te é mostrado como ócio
Falta … de disciplina e de agradecimento
Vício de usar e não usar

É algo que está na pele
Nos sentimentos
No ambiente

E assim como tu respiras
Eu também respiro
Mas tem dias que não quero.

Daniel Sena Pires – O quarto e seus vícios(28/05/2011)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Das dádivas, das tarefas e das dores


Uma leve dor de cabeça, como se todas as falhas fossem consignadas
E, uma por uma, viessem tratando o corpo com maldade
Como se ninguém gostasse de te chamar pra conversar
Porque você fala demais, e não escuta nada do que dizem
Outra hora, numa das conversas diárias com algo que ainda não identifiquei
Falando sozinho, ao sair do quarto, ainda desesperado … sono distante
O estopim:
Ver que as coisas não mudaram, mesmo eu tendo pedido tanto
Prometi a mim mesmo, ontem, que chorar é coisa do passado
Mas me sinto ainda com os setenta anos da adolescência
Apesar do salto, e de tudo ter sido tão fácil e rápido
As cicatrizes estão amontoadas sobre um pouco de vontade que resta
Vontade essa que pra ser vista, me pede pão, água e igualação
Eu não tenho nada, que vontade vou ter?
Gosto, adoro, amo … venero as vezes que consigo me olhar
E saber que sou eu
Queria eu tratar as coisas com menos fixação
Mas se alguém me prova, eu fico triste
Mas se alguém está padecendo, eu preferiria que fosse eu
Posso gostar tanto dos outros, e de mim que vivo todo dia no mesmo corpo, mesma casa, e conheço bons e maus “amigos”, numa mesma proporção?
Acabo me tornando um ator, fingindo que viver é tão simples
Encenando que não me importo se não tenho com quem comentar que hoje eu estava bem …
Mas que da noite em diante eu sumi, eu não sabia o que fazer
Procurei olhar pro céu, e pro chão
Pelo menos não vi distância em seus infinitos
É tudo a mesma coisa, disso eu sei
Assim como sei que esses dias vão voltar
Minha melhor amiga, hoje … foi uma folha de papel
Essa mesma já antes rabiscada de “não consigo”
Falar pra quê?
Se quem diz ouvir, me oferece o seu plágio
Se o caso fosse ser indecente, eu mesmo cortaria relações com a minha alma
E não precisaria ficar acordado até agora, esperando essa tempestade passar
Gostar pra quê?
Se o que eu ofereço já não é o bastante pra nada
E por incrível que pareça, eu gosto disso aqui
Gosto de entender as minhas coisas, de saber que nunca há de entender-se completamente nada
Em quaisquer aspectos possíveis e imagináveis
Tem horas que a falta é tão grande, que enche todo o corpo
Encorpando até sorriso
Entendeste agora?
Por hora, eu estou sozinho
E as dádivas quais tantos enchem a boca e proclamam ao mundo
Podem me ser tarefas, às vezes árduas …
Às vezes impossíveis
Mas olha aí o susto de novo:
Eu ainda consigo.

Daniel Sena Pires – Das dádivas, das tarefas e das dores (20/05/2011)

(Pois ele estava certo, soa até inútil e redundante, de minha parte, dizer que um gênio estava certo ... mas é preciso fazer-se ver, não por crueldade para com os otimistas, mas por aconchego a quem nem sempre faz parte do "coro dos contentes". - Sobre Van Gogh)

domingo, 15 de maio de 2011

De onde vem?



O momento é de espasmos em verdades
Creio e duvido ao mesmo tempo, abraço e ataco meus amigos
O clima pede mais em por-se em guarda
Fatos e sentido, nunca se cruzam se os espero
Potencial caindo

Até quando antes chuva e vinho me faziam não gostar de não gostar
Vivia um medo dessa mística faltar
E punha eu o rosto lá fora, sem medo da rua
Mas com uma profunda negação
Toda boa palavra é nostálgica

E todo bom rapaz é homem sofrido
Todo carinho cego, tão logo cortará teu coração

Toda carga vital é passível de recomeço
Sempre acabo perguntando, mas … interrogações pra quê?

Gosto de provar veneno
Assim me sinto mais preparado
Alerto o coração, qualquer tontura …
E puxo o gatilho, corro para a montanha mais próxima
Chamo por socorro, ou só me escondo até tudo passar

Foi sempre assim, aprendi a trabalhar minha mente
“Você não pode reclamar de tudo, nem tudo é seu”

Mas e se eu conquistar?
Mas e se eu morrer?

E se eu não gostar de morrer?
Há volta?

E se eu não gostar de conquistar?
O que eu vou fazer?

Toda a arrogância que é …
Pedir a culpa, pois não desculpas
Ou tudo o que é adverso …
Que não casa com o que teus dedos tolos escreveram numa juventude sem vida …
Não podem ser tão diferente do que és

Eu, enquanto distante …
Me poupo de todos

Mas e se eu gostar?

Daniel Sena Pires – De onde vem?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Rubrique SS A









De quem é a culpa disso tudo?
Quem foi que disse que pra amar é preciso que doa um tanto assim?
Um tanto que fere, que deixa inconsciente
Que corta o fluxo dos dias
Que acorda outras dores já findas
E como podem findas?

Não amo agora, o mesmo que amei quando conheci
Pois somos outras pessoas
Na convivência, e no “eu te amo” diário
Vamos nos tornando um pouco mais nós mesmos
Você não me entende, né?
Não falo de rotina, o amor ainda é o mesmo

Já te acordei por eu estar com frio
Já te beijei porque estavas cansada e era tarde
Já te acariciei por eu estar em falta de carinho
Já chorei pois, mesmo ao lado, não estavas ali
E mais dói morrer por dentro
Do que qualquer outra morte que me poupasse isso

Eu vou ficar bem
Bem
Bem

Eu vou ficar bem

Até que eu me convença que isso é que é a verdade

E que não nos temos mais

Porque depois …
Quando a dor fizer cócegas no meu corpo cansado
Vou saber que é falta
Vou saber que é a mesma
Aquela não finda

Mas que a culpa, se é que se pode chamar culpa, não é tua
Nem é minha

É desse amor que morre de medo de amar.

Daniel S P – Rubrique SS A (09/05/2011)