quarta-feira, 29 de junho de 2011

Hecate






Que carrasco tão cruel
Ceifador, tormento
Falta sono, calma e compreensão
E se, por insistência, o homem dorme sem luz
Ele vem com suas náuseas sabor morte
Cor de sangue, mentando o corpo todo
Que gozo vazio, que forma horrível
E depois, como conquista …
Revela suas formas cadavéricas
Imagens fortes, e as entranhas se tornam cactos
E tudo vem sangrando lá de dentro
Aqueles dias que o céu não está nem sequer cinza
É um amarelo medroso
E a terra quase que te engole num sopapo
E não adianta socar a parede
Nem cantar hinos de redenção
E nem parar de respirar na esperança de que tudo vá embora




É mal e é drástico, é cataclísmico
É um caos por dentro, e lá fora nem vento há
E …

As hastes do teu corpo, ele sabe onde estão …
Cada uma

E faz questão de tragar teu ar
Morrem teus direitos, e teu prazer é suicida
Pois já não é novo, ou intenso

:::: Sabe quando a gente torce pra que seja só um pesadelo?

:::: Sabe quando o peito se rasga todo, e você não entende nada, tamanha a inércia?

E vai-se longe
Em distância de espírito, confusão e desespero

Tempo, convivência e projeção …
Dizem algo que não varia, não inibe, não incita.

Tudo é profundeza.

Daniel Sena Pires – Hecate (30/06/2011)

sábado, 25 de junho de 2011

Julgar pra quê?


E se foi mais um alguém que se deveria perpetuar para sempre
É difícil explicar como dói sorrir pra mascarar essa mesma dor
Não há lugar, por mais especial que seja, capaz de apagar os traumas do “por que tem que ser comigo?”
E se tudo não tivesse sido assim, eu estaria bem?
Mas foi assim, e assim estou … e eu não estou bem
Cada noite sem dormir, esfaqueando a delicadeza
E vocês aí dialogando sobre como eu deveria me comportar
Eu não mudei tanto assim, ainda esbanjo sorrisos a quem nem conheço
Simpatia e perfeição, num perfeccionismo na busca de ser só um alguém bom
Se eu digo algo, e você não entende muito bem
Ou gesticulo momentaneamente à expressar o que seja
Não me julgue, não me prive
Não me escolha
Não me molde
Os meus fantasmas já fazem isso por mim
E qualquer coisa que eu conquiste, qualquer preço que eu pague
Qualquer nova angústia aterradora, ou canto bonito em luz e sombra
São meus

Acho que sofro porque amo demais
Todos vocês

E, convenhamos …
Qualquer um tem medo de abrir os olhos no escuro

É isso aí.

Daniel Sena Pires  -  Julgar por quê? (25/06/2011)


"No nosso momento mais sombrio
No meu pior desespero
Você ainda vai se importar?
Você estará lá?
Nas minhas provações e minhas tribulações
Pelas nossas dúvidas e frustrações
Na minha violência
Na minha turbulência
Pelo meu medo e minhas confissões
Na minha angústia e minha dor
Pela minha alegria e minha tristeza
Na promessa de um outro amanhã ..."

(Michael Jackson - Will you be there)

sábado, 18 de junho de 2011

Um dia pra se esquecer







Hoje eu me odeio
Queria eu que minhas navalhas funcionassem como as dos outros
“Uma volta, um amigo, um bom filme … vai passar.”
Nada passa, não pelo tempo suficiente da calma
Por que é tão difícil estar comigo, e me adotar junto a todos?
Minha mente se vangloria por não se preocupar
Às vezes, mal sabendo que o melhor seria não se julgar
Preciosismo dos conflitos, em se acharem tão importantes
Tão intensos quanto é verdade que o sangue corre
Tão mentirosos quanto é complicado deitar-se sobre a cama suja
Bobos e maldosos, mas tão meus
Caminho tortuoso, é esse mesmo
É o que ninguém quer …
É o que ninguém precisa …
E o que me jogam na cara que escolhi
Como se no começo de tudo, antes das falhas
Lá quando ainda fazia sentido me afastar da destruição
Eu tivesse carimbado o destino, dizendo a mim mesmo:
“Eu gosto da dor”
Por favor …
Dessa vez não
O dia de hoje merecia uma bomba
Preferiria vê-lo morrer calado
A me importunar assim, em horas e minutos doentes
Sombrios, e tão precisos de esquecer


Nem álcool
Nem nada

Quem sabe o sono …
Quem sabe um outro dia
Quem sabe?

Tudo anda tão escuro
Que dá medo de pensar em abrir os olhos.

Daniel Sena Pires – Um dia pra se esquecer (19/06/2011)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Homenagem ao rock, que ainda dorme


Ouvir um bom rock pela tarde, entrando na noite com a cabeça ainda girando
Fixado no que John suspirava
Sem saber porque Paul mal falava

Berros e doçuras, que se destacam e sobrevoam imensas quantidades de mim
Ainda bem que Renato me dissertou sobre isso
E que Freddie, com seu jeito avisante, me fez me ver ali dentro

E embora alguns morram pela causa
Que na verdade nem é essa …
Ouvir o que eu preciso, nunca vai ser desperdício de tempo

Falar da vida, é pra quem vive
Intensamente, ou por força
Sentimento, idealização, desconforto … condense isso!

Certa vez Jimmy Page disse … na verdade nem disse, apenas arpejou
Psicodélicos, Punks … malditos meninos mimados
Sujos, malcriados … verdadeiros

Ah, Humberto … se minha mãe soubesse que ainda nem tenho minha banda
Iria zoar comigo … Eu ando tão down, exagerado, beija-flor com as asinhas em sentimento

Vou sentar e ir até a China …
Voltar num Zeppelin
Soltar fumaça por sobre a água, de volta à escuridão



Daniel Sena Pires - Homenagem ao rock, que ainda dorme (15/06/2011)


[Beatles, Legião Urbana ...
Queen, Dire Straits, Led Zeppelin ...
Engenheiros do Hawaii, Ira ...
Joy Division, Nirvana ...
Capital Inicial, Metallica ...
AC/DC, Deep Purple ...
Muito obrigado]

Atento aos detalhes



Quero algo novo
Pois o dia hoje foi um tédio
Falei de mim e dos meus interesses
E sobretudo não falei do que eu quis
O que eu sentia era igual
O que me coube saber?
O que eu ouvi foi igual
O que me coube aprender?
Hoje estou tão chato
Que ler seria brincar de me esconder
Cantar seria brincar de escolher
E hoje eu não queria brincar
Eu queria sentir
Eu preciso viver
Talvez um
drink ou um café
Lá pela hora do “meu Deus do céu!”
Ou suspirar fumaça aos céus
Enquanto o corpo cede à sede de contato
Mas não, está sempre lá
O mesmo choro com voz de criança
O mesmo chute com força jovem
E a mesma vontade sem força alguma
Os olhos pesam, e o corpo já foi há muito
Deitado por sobre os ombros de uma vida desmedida
Nem é tão tarde
Pra falar a verdade, é cedo
O que assusta também
Aquele arrepio que dá na nuca
Quando conhecemos angústia
Quando sabemos o que é poder faltar
E tudo ao que me refiro é parte de mim
E se me engasgo comigo, eu tenho que me sair
Calei, pois nem voz eu tenho paciência em gerar
Falar sozinho cansa
E eu cansei de me ouvir
Não estou reclamando, só estou esperando ainda
Alguma hora será a minha
Algum dia será o meu
Atento aos detalhes …

Daniel Sena Pires  -  Atento aos detalhes (15/06/2011)