segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Passa o tempo







E o vento nos cabelos , soprando mil novidades
Passa o tempo , foi-se a juventude , os amigos que não eram amigos
Resta algo das tardes fraternas , mesmo aquelas onde se finge diversão
Cobra o mundo que sejamos um pouco mais sóbrios
Passa o tempo , e em todas as noites sozinhas , o mesmo tempo demora tanto a passar

Vejo tantas mãos vazias , tantos corpos fracos
Passa o tempo , e a saudade que eu tenho do desejo de mudar as coisas , é mais forte
Vícios tragando modos , saúde e vitalidade
Cresço cético e atarefado , montando pequenos vasos onde coloco parte dos planos
Passa o tempo , passa logo … logo nem tempo há de passar

Mexo os braços , agitando a vida toda
Passa o tempo , e … Ei! Não fale assim dos menos protegidos
Perder o foco , nem sempre é perder o rumo … tampouco é finalizar-se ao gosto alheio
A ocasião me faz agir , a adaptação me faz chorar … e me falta fôlego
Passa o tempo , que eu tanto peço que passe … que passe comigo

Genealogia da experiência humana
Passa o tempo , e volta outra vez
Outras pessoas com tempos iguais
Eras iguais

Olha o quanto evoluímos nesses últimos 10 dias
Ou mesmo nesses últimos 10 minutos

Por favor , tempo …
Passa e leva um pouquinho de nós
A alguém que adiante precisará mais do que precisamos .
Passa , tempo .

Daniel de Sena Pires – Passa o tempo (21/02/2011)

Cabo de guerra


Nem faz tanto tempo assim , eu ainda gostava de me ver
O que acabou foi tão ruim , e mesmo assim não melhorou
Pari um abraço de alguém que gostava de mim
Ai , que cansaço! Conheço esse lugar …

“Num momento diferente”
Foi o que pensei ao tentar não me ferir
“Só desta vez sou melhor”
E acabei caindo aos pés do mesmo socorro
Que me ajuda , é verdade
Não entender o corpo , eternamente disposto a não se manter

Gritei tanto
Me sufocando num lençol cor de sangue
E sangrei … de novo
Com um sangue tão comum
Nas paredes do quarto , já fadigado por minhas confissões
Guardo textos que ainda não escrevi
Areia de praia
Um homem feminino

O que é meu …
O mais secreto …
O que poderia ser de alguém ...
O que não divido ainda , por não querer errar …

Todo meu trabalho em me colocar como não sou
É divertido pra se olhar .
Mas e aqui ,
Do lado de cá do cabo ?

Daniel de Sena Pires – Cabo de guerra (21/02/2011)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pescador anônimo






Antes … fui pescador anônimo
Saciando o ego , e só
Com uma rede de malha fraca
Sem pesca e sem sede nos gestos

Criança largada no mundo
Criado com outros largados
Com lindos rubis cor de sangue
Mas triste , contido

Parar pra respirar num cantinho da sala
Me tornava capaz de sonhar
Com os olhos abertos , disfarçando a angústia
Coberto de razão , transtornado de medo

Crescendo e me comunicando
Fingindo uma igualdade que não está
O cômodo de se deixar ir
É não se esforçar para tanto

Sabe o que é bom ?
Ficar na janela vendo o anoitecer sobre as árvores
E as estrelas aparecendo , uma a uma
Os enganos não ousam me enlouquecer

Quando todos dormem …
Deus pode nos ouvir mais atentamente
Então não pedi mais lágrimas , e entreguei as que já tinha
Sem conformidades ainda , pobre pescador calado …

Esse é o mito do desastre emocional
Rastejo todos os dias pela poeira subindo mais à frente

E se os olhos doem , prefiro não ver nada …
Olhos fechados , mãos trêmulas …
Dissipando incerteza .

Daniel Sena Pires – Pescador Anônimo (01/09/2010)

Fardo







Dizer a mim mesmo que o que difere meu silêncio de uma inacabada dispersão …
É o fato de me saber melhor , ou pior , ou igual
Em nada me ajuda a deitar , ou colher …
Se pedi e não tive , se solucei sozinho
Não é culpa de ninguém … badalo o sino dos meus dias
Num compasso não armado , nos minutos que não conto
Por não sentir mais prazer em planejar algo a mais que um dia
Conta o meu corpo , que o desgosto acarreta em fascínio
Com um olhar de criança malcriada , contra uma parede cor de mel
Num canto úmido , chove , hoje … mas é o mesmo dia
Quem sabe se eu lucrasse algum de qualquer dos meus valores
E tivesse a resposta de todos os meus delírios
Alcançasse uma ou outra projeção , me marcasse como gado
Ser meu dono e meu melhor ser , abraçado com carinho
E me amar por ser eu mesmo , não me valer de ser sozinho
E me trancar do lado de fora de todos os bons momentos
Criação esperta essa … quase que fala comigo
Estou perdendo a ânsia de liberdade
De apresentar nomes aos males
Ateando fogo às dragas … pra nunca mais ter que buscar
Achei que se dissesse todo dia , o que sinto há muito tempo …
Seria mais fácil me desprender do realismo
E dois passos adiante , olhar pra trás começaria a soar como alívio …
Ao tempo , a tudo … a mim mesmo
Tentar .

Daniel Sena Pires  -  Fardo (20/01/2011)

Angina



Eu estava tão triste tem tão pouco tempo
Sentei e olhei atentamente um espelho posto do outro lado da sala
Meu rosto está marcado , a pele um pouco seca
E nada me faz querer mostrar os dentes ou o coração

Tive vários diálogos comigo mesmo , nauseado de incertezas
Me tortura a forma como não consigo me conter
E como , com a cada erro , aprendo menos , desprezo a eternidade
Acho que só Deus suporta essa prisão

Provei do meu própio sangue , e era falso
O que há dentro de mim que não me deixa ser eu mesmo ?
Bati palmas pra mais um dia em que a força ainda me faz respirar
Mas dormi logo , esse êxtase de sentir-se bem é algo que combina com outras pessoas

Quem sabe eu queira mesmo me afogar
Ou mais , quem sabe eu queira mesmo correr em direção ao que ainda não enxergo bem
Da vida só se leva o cheiro do que se tem , o que se quer ter te faz gritar e acordar no meio da noite
Salivando e querendo sumir sem que ninguém note , não faz mais sentido completar algo ou alguém

É ótimo acompanhar os outros , mas quando se pára pra pensar :
Por quê ?

Qual o porquê ?
Por quê dói tanto ?

Eu deito e me desfaço em gemidos , no fundo da alma
Quero paz e conforto , não dinheiro ... Não quero ser escravo
Mas quero ser instigante e verdadeiro , falante ... Impressionante
Assim como é impressionante não entender nada , não há sentido em nada
Há ?

Alívio , estou bem .
Mas não me reconheço aqui .

Daniel Sena Pires

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Máquina de futuro



Raiei … enfim começo
Ao som das canções que tanto adoro
Sentei , girando o meu mundo
Estou precisando conversar
Mandei , e tive voz
Num coro incerto que sempre penso ser comigo
Tão chato , tão trágico
Primeiro me envaideço por saber cantar também
Mas logo fico triste , já não gosto de cantar
Mal saio sozinho , encontro o desconforto
Sentado na esquina , com a coisa toda feita
Esperei um pouco , e por pouco não perdi tudo
Expostas todas as minhas conquistas
Pra quem me olha , sem dar valor algum
Pagar por solidão ?
É de fazer rir qualquer um
A verdade custa caro
Compartilhá-la , mais ainda
Agora , fora tudo aquilo que não conto
E tudo quanto quero , mas não sinto
Melhor seria me procurar nas cartas
Endereçadas a quem disse se importar
Me resgatar …
O homem , enfim , espelho de seus atos
Sofre pra agradar , e por não agradar
A máquina de fazer futuro bom
Penteia o corpo , o ego
E a alma cai .

Daniel Sena Pires – Máquina de futuro (07/02/2011)

Noël dans au Suicide






15 minutos , parado , embaixo do chuveiro …
A água meio que disfarça as lágrimas
Mas qualquer poder de calma inexiste
E qualquer segundo à frente é suspense

Já tem alguns dias que me tento à desistir
É inaceitável exibir força …
Enquanto minhas edificações em corpo ou espírito …
São ruínas agora , ora dói , ora falta

E se me sento , logo no primeiro minuto de conversa …
Quero ir embora , quero ir pra casa , mas não quero casa alguma
Quero ficar sozinho , quero meu silêncio , mas dá tanto medo à noite
Decepção , uso errado do domínio

Não demora , logo é tarde … mal passou-se a manhã
Na saída da luz , vai-se junto o humor em paz
Está aí o porquê do medo …
É a forma mais humana de dizer adeus aos poucos

Campos santos

Ai , quantos dias em repouso ainda ?
Na espera desde criança
Soube que mais adiante existe cura
Dessa vez sem mutilação , ou perda irreparável

15 minutos , foi o tempo que parei …
Rosto lavado , corpo limpo … espírito capaz de sentir
Noël dans au Suicide

Os campos santos são privilégio de todos ?

Quebro a porta do quarto …
Arrebento o copo na parede …
Me enganaram
Não existe cura …

No máximo uma maquiagem falha
Que me jogaria nessa mesma teia que estou
E ainda pior , nostálgica , por querer ao menos não sentir raiva

Cochichando no escuro …
Correndo em pleno meio-dia …

Coisas que não fazem sentido

Agora dá pra enxergar ?

Daniel Sena Pires  -  Nöel dans au suicide , 15 minutos (25/12/2010)

Corpo a corpo

Consegui uma vez , só uma … e valeu à pena
Levantei-me indisposto , mas disse a mim mesmo :
Não chore !

Sei que as coisas nem sempre dão certo
E que em meio a uma multidão , posso muito bem estar sozinho
Mas sou livre , e tenho luz dentro de mim

Os relacionamentos são marcas pra vida toda
É claro que vou me machucar , não sou intocável pela dor
Mas não adianta me esconder , ocultar , em mim , os sentimentos

Pensando bem , tudo é tão doce , se eu for também
Pessoas egoístas irão me afrontar e ofender
Mas sob os seus sorrisos falsos , é tudo triste

No mais simples , é onde de fato está a chama da vivência
O carinho dos amigos , o despedaçar do sono com a voz de quem se ama
Senti isso enquanto pintava música com os dedos e a voz

Sou uma pessoa melhor , meus delírios são muito mais reais … os bons
Quero viver , posso até prometer que nunca vou desistir
Pois sei que posso me encontrar aos pouquinhos … e ir me realizando
Crescendo

Sou um adepto do amor universal
Sectário quanto a ser uma pessoa em constante evolução
Ah … como é gostosa essa sensação
Enfim vivo .

Daniel Sena Pires – Corpo a corpo (04/09/2010)

Reflexos Interiores



Sem saber mais como agir e nem o que pensar
Volto o pensamento para dentro do coração
Em busca de paz , calma e compreensão
Tenho mais a oferecer , muito mais e melhor
Tenho mais o que viver
Mais o que sentir

Mas sempre existe a dúvida , que traz à tona alguns medos
Existe o vazio , que descontrola e até corrompe
Que penetra na alma , que envolve o choro
Insistindo à tristeza e confusão de sentimentos
Inibindo algo que faça-me voar por mim e meus momentos

Se não fosse a minha vontade de amar
E meus objetos de amor
Tudo me faria olhar para trás
E eu não suspiraria ao fim de cada noite
Pereceria sobre a vida
Em falta comigo mesmo
Anoitecendo o meu coração em sede .

Daniel Sena & Rônia Carvalho

Primeiro dia




Pressentimento sobre o eterno paradisíaco

Pressenti que hoje será tudo melhor
Ao acordar , o sangue não estará coagulado em poça
E ao dormir , não haverá mais como ter medo de acordar
Ou o mesmo calor doído , aquele que não mata frio algum

Percebi que caminhar sozinho , não é sensível
Todos fraquejam quando o contato é pouco
Consigo mesmo , a briga é sempre mais intensa
Nos pedaços em desmanche , sua vida … no desague , ou nada

Cantarolei medidas , e me abstive dos sustos frequentes
Ah , a melodia dos dias bons !
Que falta faz cantar , sem voz … intenção ou lugar
Provo que estou vivo , com todo essa cansaço de viver

Embaralhei todas as palavras , todas as embaralhei
Sugerindo ao cosmo que me ajude a calma , ajude cosmos
Que me faça falta as vezes que me faltarem sorrisos , falta não há de faltar
O humor drástico , que aqui é companhia e ali é palavrão

Preferi protestar logo aos berros
Não sou de silenciar catástrofes , ou maquilar verdade

Percebi que estava certo , e não diferente disso …
Estava , enfatizando a pose , categórico

Sabe , aquele pressentimento sobre o eterno paradisíaco ?
É verdade .
Mas em ser real , nos toma todo o existir .

Daniel Sena Pires – Primeiro dia (16/01/2011)

Criação desgovernada


Direção ?
Não houve
E a atenção , o “ter cuidado” ?
Não existe .

As falhas humanas aos montes
Sentindo a obrigação de sumir
O tempo devora .

A simples arte de não se acostumar .

Sangue ?
Só coagulado
Já frio , e desprendido
Cronos ataca , Cronos devora .

Sabedoria ?
Um “blá blá blá” qualquer
Uma mesa redonda …
Amigos , e quem se possa chamar .

Analise você ...
Quão banal é abdicar do direito de não ser
Se sabemos que ao final de tudo
O nada sempre apavora .

Florestas negras possuem sombras douradas …
No escuro só é possível se ver os focos de luz .

O tempo devora .
Não hei de tardar .

Daniel Sena Pires – Criação desgovernada (22/10/2010)