domingo, 14 de outubro de 2012

Cansaço na matina









É madrugada...
E quer saber de uma coisa?
Eu não sei o que fazer.
Simplesmente, não sei.
Não sei se foi você, que me roubou as forças...
Ou se foi culpa minha...
Mas respirar tem me deixado doente.
Pensar que tudo agora é nada...
E que já não tenho ninguém
É cruel.
Um abraço, é o que eu gostaria...
Mas não seria uma boa idéia
Ainda não consigo não pensar em você.
E o relógio passando, morrendo também...
Sim, também.
Vai dar tudo certo?
Vou me libertar disso, agora...
Dar uma volta aqui por dentro...
Vai dar certo sim.
Tem que ser.

Daniel Sena Pires – Cansaço na matina (15/10/12)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O homem que morre






E, assim como quem chora, o homem que morre...
Vai se ligando, ponto a ponto, e se vê em caos
A desordem que se joga aos seus pés...
E a cabeça em todo medo já se vira do avesso.
As cores desbotam...
Todas, todas... E nenhuma lhe quer bem.
O que foi que o homem disse?
Antes de morrer, quase nada faz sentido...
E se depois de morto, há um prazer descomunal?
Onde está a paz dos garotos?
A cabeça fervilhando de tantas idéias inúteis
E as mãos querem matar...
E não querem nada.
E só o coração ainda faz alguma coisa...
Pela pura comodidade humana.
Essas coisas assustam, e são tão mesquinhas.
Como quem morre, todo homem tem de sofrer...
Do contrário, não vive...
Mistério maior que soluçar loucamente de medo...
E mesmo assim insistir, não deve existir.
Inadequação é uma palavra e um dicionário...
Veja que o ponto sólido dos que não querem mais...
É não fazer questão de ponto algum, portanto...
O ponto é nulo, cada definição tem o seu assento...
Seu uso vão... E...
Sabe, acho que cansa, deve cansar...
O homem que morre parece saber o que está acontecendo.

Daniel Sena Pires – O homem que morre (02/10/12)

Insígnia Cicatriz






Quanto sono me falta
E como é complicada a caminhada...
Ando meio clichê, meio dolorido

Os amigos não sabem, nem têm como saber
O dia anda torto, mal se põe de pé
E onde está você?

Com aqueles carinhos teus
Meu corpo é refém dos dias, e lá vou eu sofrer
“Que miséria!”, grita a alma

E a resposta é um silêncio maldito...
Que pra acertar na vida, o sujeito sofre.
E erra, e perde, mas quase nunca ganha nada.

E ando bem, aos olhos alheios...
Mas sinto a falta de estar aos olhos teus.

Daniel Sena Pires – Insígnia cicatriz (02/10/2012)

domingo, 9 de setembro de 2012

Do amor perdido




Sabe aqueles dias que você pensa que está morrendo?
Mas não se desespera...
Porque isso te faria o maior bem possível.
E tudo e tudo é nada, e nada é completo, e tudo é errado...
O pior é sentir seus erros corrompendo o divino...
Aquela dor corroendo por dentro.
Por que teve que ser assim?
Eu quero deitar com a paz de espírito dos que amam...
Mas não quero me apaixonar de novo.
Isso que eu sinto, e o que eu ainda vou sentir...
Forram a alma de trevas, o corpo de chagas.
Ando sempre precisando de um drinque, de fumaça...
De sumir.
E não é culpa do amor, é culpa de quem ama...
Eu amava tanto a gente, que ainda hoje sofro o mesmo.
O pior de estar sozinho de novo... é não saber o que fazer com o amor que ainda tenho
Enterrar? Matar?
Sofrê-lo?
Vou me acalmar, que eu sei que o vento leva...
Que eu sei que o tempo passa...
Mas enquanto passa o tempo, não queria viver.
Preciso do torpor que nenhuma bebida me dará...
Sei lá, quero esquecer lembrando, vai ver que é isso que faz doer tanto assim.
Eu lembro que amava...
E não esqueço ainda.
Mas a culpa não é sua.
Quem sabe em outra vida, há de ser belo o tempo todo?
Mas deixemos isso de lado, que meu coração dói de tanto aperto.
A vida está aí, nunca boa, mas está...
E eu sigo, cambaleando, torto, medroso...
Mas sigo, isso há de ser bom?
O tempo dirá...
O que só eu sei, é o que sofro ao deitar a cabeça ao travesseiro.
É mais forte que o dia inteiro, e mais intenso que minha mais cruel madrugada...
Mas há de findar, há...
E não há nada que eu anseie mais.
Hoje, eu estou de “por favor” ao universo.
Tudo lembra “nós”, e “nós” está me matando.

Daniel Sena Pires – Do amor perdido (10/09/12)

domingo, 2 de setembro de 2012

Motivos



Eu já cansei de querer tanto, ao ponto de cegar...
E ouço as pessoas que me chamam, aquelas que mentem
E as ânsias ruins quase me matam
Hoje, era pra ser tudo diferente...
Coisa que o habitual quase não vê
E o que eu sou?
Parando por aí...
Um corpo que não precisava ser assim, uma mente instável
Um violão
Um copo de vinho, pescoço quebrado
E não há motivos que sustentem essa indecisão
E motivos nunca hão de faltar
Pobre homem, com coração de pano...
Que dirá teu peito, disso tudo?
Deitar, correr...
Não importa.

Daniel Sena Pires – Motivos (02/09/12)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O preço


Acordo às duas, e vejo que não vou dormir
Levanto, e já desligo o despertador
Tem um frio menino invadindo o quarto
E, sem vozes, as coisas parecem ter a mesma fome
Tudo e todos precisam de mim nesse momento
O mundo é meu, e eu sou o mundo, estou sozinho
Vai que eu ganho, dessa vez...
E nem preciso competir, minha vitória é marcada de lástimas
Não sei se é certo perder todo o sangue em prol de um troféu
Mas parece ser a única segurança que vou ter
Como uma parede alada, eu me seguro e ela me solta...
Pensei muitas bobagens esses dias
Estou meio sem chão, soluçando mentalmente...
Percebo que os reflexos já não mais os mesmos, quando se trata do corpo
Mas quando se trata dos outros, as “revelações” são sempre iguais
As reações são sempre iguais
Ninguém gosta de se desfazer de um bom amigo
Mas quase ninguém está aí pro que ele sente
Vira aquela coisa do “Te entendo”...
Muita gente boa não sangraria se a falsidade fosse verdadeira
E digo nos dois gumes, se é pra sentir... sinta
Se é pra mentir, cale
Não sei se estou errado, ou muito certo
Acho que no fundo, no fundo, eu estou muito cansado
Parece que vai chover...
Vou acender o cigarro, uma xícara de café, talvez...
E esperar as gotas começar a rolarem pela janela
O simples custa caro...
Não sei se sei realmente que preço é esse.

Daniel Sena Pires – Preço (17/08/2012)


sábado, 11 de agosto de 2012

Sorriso gelado




Hoje, foi assim...
Ele entendeu tudo o que acontecera antes, e não foi tão bom
Mas não tão ruim, o que lhe pôs um sorriso no rosto
Aquele sorriso gelado, de quem foge de fantasmas há muito
E das dores escondidas entre meninas e carinhos
Meninos, circulações de capital, viagens internas...
Madrugadas soluçantes, é tudo a mesma coisa
E tem horas que a gente se culpa, não tem?
O que ele pode fazer?
Nada mais do que eu, ou você...
A espera sempre tácita, nessa esperança de estar tudo certo
O disfarce de “vou”, quando ainda nem está firme ao chão
Ah, o desespero de saber o que quase todo mundo quer
O tédio de estar sempre certo é um inferno, comparado ao prazer de errar e se surpreender com uma motivação maior
Mas eu lhe disse da calma que precisa
E disse do sono da noite, da boa vida, do bom viver
Blá, e ele bateu a porta
Poderia ser pior.

Daniel Sena Pires – Sorriso gelado (11/08/12)