Enquanto a música, soando célebre, ia rompendo corações desatentosEu me pus ante a todos, cansado de trilhas e metas sem sentidoE, não nego, paralisado de medoChefe da minha humilde decisãoDono de um pouco mais que eu não precisoAglomerados sujos, e imagine … ainda brancos de uma limpeza inventadaE dentro de todas as cabeças tão estranhamente tidas como solEu vi saindo pequenos sacos vaziosEspalhando o imenso nada por toda complexa existênciaQualquer um que ligasse os pontos, perceberia que foco não predispõe intençãoCorações abandonados, vidas traumáticas, infâncias despedaçadas …Vinho num quarto escuro, cigarros por sobre as cadeiras …Levando-se em conta que “não importa nada”, que “se dói é porque queremos”Fica mais fácil encarar a vidaMas mesmo assim, eu ainda fico meio de ladoTenho medo de tudo voltar, pois quando volta … arrastaMais que isso, arrasa … e sempre quebra um pedacinho de mimIndisciplina da solidão, que mostra aos olhos que tudo é lindoMas somos feios de coração, por não haver motivos iguais aos de todosRaios de sol somando-se às figuras das estrelas …Como brilhos tão parecidos dizem coisas tão diferentes?O dia que invade a noite, que nunca se entrega cedo … despencando à claridadeQuem sabe eu bole uma nova maneira de expor meus sentimentos?Fechando a boca!Mas nunca fecharei as portas …Se vier, que venha … se já foi, que sejaNão posso me esconder atrás de silêncios maltrapilhosTenho que decididamente agir, pra não faltarUm choro de alma gemendo tem me acordado ultimamenteEu olho o quarto todo, e tremo … e divagoE nunca sei onde está.Daniel Sena Pires – Dar as costas à multidão (01/08/2011)
Bem eu suspeitei que ao não saber por onde andavam minhas palavrasCertamente durante o dia não saberia me conter em equilíbrioPosso não surtar, mas não posso não sumirE não estando, grito desimpedido, quem haverá de saber?E que tantos rostos me olhando são estes agora?Sinta como eu sinto, os minutos sugando vividezO mal da angústia não é o choro, é o sal que ficaE nenhuma morte é pior do que essa em que se vivePenetrando o futuro com a lentidão possessiva dos que já saúdam outras vidasLetargia alimentada pela indiferença, más palavras, costas viradasO que não justifica perante os olhos alheios de tão fácil desprendimentoMas por dentro, carne, alma … nota-se de longe o embaraçoDeduzir planejamento sobre o que se sente, é impossívelNinguém suportaria uma vida regada com mesmice, nessa retidão paranoicaA tese dos doutores do “saber viver bem” masturba seu próprio ego“Coma o quanto puder” e “Viva por prazer e conquista … e só”Ei, nem tudo é tão pateticamente banalHoje mesmo eu não soube o que fazer com uma dorzinha que me apareceu por não entenderQuando penso em algo absoluto, rivalizo com o que eu mesmo souO “vir a ser” é cada vez mais idoQue mito doloroso, se tornando comum.Daniel Sena Pires - Mito comum (30/07/2011)
Dá gosto de sangue na bocaTentar entender a criança que ainda é toda medoDo escuro, dá pra se ver todos os focos de luzE entre eles há uma felicidade ignominiosaMas quem dança aqui desse lado, nunca está bemSer solto e liberal?Ser conde e sem casa?Não entendo onde as coisas estãoElas estavam aquiEu ando tão perdido quanto averso à vontadeA rouquidão matinal agora é pós meio diaA procura por “paz” esgota-se ainda no primeiro momentoE outra hora ouvi uma voz estranhaQue disse: “Mas não é com você”Parece bobo, e de soar tão mesquinho … parece maldadeMas não é com você, agora sim …É comigo, coisa de “eu e mim”Sempre éSempre foiÀs vezes eu vejo pessoas jogando cacos de vidro e tijolos inteiros …Em outras pessoas, pelo simples de fato de não entenderem o simples fato de que nem todo mundo tem que ser rigorosamente um particular seuIsso dóiEu já não sei o que dizerE fazer … já se tornou decepcionanteConvivo com armas, com fogoCom gente que não gosta de genteParece castigo …Eu só queria acordar sorrindoE gostar de estar de pé agoraE de ter estado em pé aos 11E de ter estado em pé aos 12Sabe?Algo ainda vai valer a penaNão é possível.Daniel Sena Pires – Cacos de vidro e tijolos inteiros (Obrigado) (27/07/2011)